A multidão nos seriados Star Trek e Heroes: dissensos do imperialismo ao império
Resumo
A presente tese pretende uma leitura crítica de dois seriados norte-americanos, também veiculados no Brasil: Star Trek e Heroes. O exame propõe observar dissensos da multidão presentes em ambos os seriados de TV. A multidão (HARDT; NEGRI, 2000) é como uma força social capaz de desafiar o poder soberano e instituir novas formas de organização social; sua presença pode apresentar dissensos (RANCIÈRE, 2010), ou seja, novos elementos para aquilo que convencionalmente é considerado e sentido, o regime do sensível já estabelecido. Esse movimento se associa a concepção de história materialista que sugere a procura de tensões contra a ordem social dominante (BENJAMIN, 1987). O seriado Star Trek estreou em 1966 e seu último episódio foi transmitido em 1969. A série foi produzida pela Desilu Productions e exibida pela NBC, e sua transmissão se deu num momento em que a política externa americana passou a tender menos para uma atividade imperialista do que para uma ação de policiamento a serviço de uma ordem supranacional. A hipótese é a de que sua narrativa apresenta a vontade da multidão em impedir o exercício da antiga soberania europeia e em superar as lutas nacionalistas. O seriado Heroes foi produzido em parceria pela Tailwind Productions, NBC,Universal Television e Universal Media Studios. Foram exibidas quatro temporadas de 2006 a 2009. A série aborda a história de personagens que, em razão de mutações genéticas, se descobrem portadores de poderes que os tornam especiais. Embora apareçam em diferentes partes do mundo, existe alguma força que, de variadas formas, mantém os personagens interconectados. A hipótese em Heroes é a de que as habilidades especiais dos personagens podem ser associadas às faculdades da multidão capazes de se opor à ordem do capitalismo global. O objetivo geral desta pesquisa consiste, como afirmado inicialmente, em averiguar dissensos da multidão dentro dos seriados. É possível observar que estes objetos da cultura não carregam um regime único de apresentação ligado à lógica mercantil, mas permitem constatar, dentro de seus respectivos contextos de produção, capacidades transformadoras contra a ordem constituída. Pode-se afirmar que as tensões observadas nos seriados denotam problemas para a tradição defendida pelo dominador apresentando formas desafiadoras à leitura da história e fazendo justiça aos dominados.