A sociedade do século XIX e a arte teatral: uma leitura do legado e das mazelas na obra como se fazia um deputado de França Júnior
Abstract
Este estudo apresenta uma leitura da textualidade teatral brasileira produzida no século XIX. Para tanto, delineamos como objetivo geral analisar aspectos da peça teatral Como se fazia um deputado, (1863), de França Júnior (1838-1890), com ênfase na representação da política e da sociedade no século XIX. Os objetivos específicos procuraram discorrer sobre alguns elementos da teoria do teatro, bem como investigar a inclusão de canções de escravos, discutir sobre as concepções de termos políticos e comportamento social, com o intuito de avaliar como o enredo teatral ilustra a passagem de momentos da cena à política e à sociedade da época. Este estudo possui caráter qualitativo, contemplando os pressupostos enunciados pela pesquisa bibliográfica, no qual pretendemos elaborar as reflexões teóricas que proporcionaram suporte para a análise empreendida. A opção pelo tema deu-se por verificarmos a relevância do estudo de peças teatrais como possibilidade de avaliação das sociedades nos tempos e lugares. Assim, investigações sobre a arte, os momentos da história do Brasil e, particularmente, a postura dos personagens, que enunciam a presença de aspectos da cultura do que se denomina de ¿coronelismo¿, trazem à cena a visão do autor sobre momentos da história da sociedade e da política brasileira do século XIX. Tal perspectiva apresenta a possibilidade de também avaliar se ocorre sua reincidência na sociedade deste nosso tempo. O desenvolvimento do estudo bibliográfico procurou contemplar os elementos da teoria teatral, enredo, personagens, espaço, ambiente e o tempo. Enfatizamos que a peça Como se fazia um deputado destacou as considerações do dramaturgo França Júnior sobre as tratativas políticas, a escravidão, o imigrante e arranjos matrimoniais do século XIX, e que esses reincidem em nossa sociedade. Concluímos, a partir de nossos estudos, a importância de investigações sobre a arte teatral, em especial a obra de França Júnior. Percebemos que o autor, colorido por sua criatividade e originalidade, revela o caráter subjetivo e universal de sua peça, evidenciando a capacidade de, a partir de seu tempo, provocar reflexões sobre aspectos desse legado do século XIX, observados ainda nos dias atuais.